domingo, fevereiro 20, 2011

6º CAMPEONATO NACIONAL DE ESCRITA CRIATIVA: 1º DESAFIO - PLANO INFALÍVEL



Um dia, chega a casa e começa a ouvir as mensagens que tem no seu gravador de chamadas. Quando chega à terceira mensagem, fica parado, sem reacção. Comece a história a partir daqui.

(máximo: 400 palavras)

«Não... mas como é possível?» Incrédulo no que acabara de ouvir, voltou a carregar novamente no play do seu gravador de chamadas, para se certificar que não tinha acabado de sonhar, escutando aquela mensagem pela segunda vez:

"Xavier, sabes quem está a falar?... hum?... sou eu, o Caetano... ficaste admirado? Deves estar branco por ouvir a minha voz, não? Como podes ver, não morri... quando quiseres matar alguém, fá-lo bem feito..."

«Mas como podia estar vivo?» O plano tinha sido estudado até ao mais ínfimo pormenor: ficaria no escritório, até ser o último, com a desculpa de ter de preparar uma reunião para o dia seguinte; combinaria um encontro com Caetano numa estrada secundária, fora da cidade, para entregar o dinheiro das dívidas de jogo, o seu pecado original desde a sua adolescência; quando estivessem juntos, arrancar-lhe-ia a vida com a arma que tinha comprado a um marginal uns dias antes na Baixa; jazido, prostrado no chão, o corpo seria enfiado dentro de um plástico negro que traria consigo e abandonado num terreno baldio; por fim, regressaria para o seu escritório, como se aquelas duas horas de ausência nunca tivessem existido. Assim planeou, assim executou, sem sobressaltos ou imprevistos.

Nas duas semanas seguintes ficou atento aos meios de comunicação, constatando para seu gáudio, que não haviam feito qualquer menção sobre o assunto. Regozijou-se com o feito e com a coragem demonstrada... até... até àquele momento em que a voz de Caetano ecoou novamente pelas quatro paredes da sua sala.

Encheu o copo de whisky de malte, bebeu-o de um só trago, acendeu um cigarro, respirou fundo, pegou nas chaves do carro e saiu porta fora. «Tenho de ver com os meus próprios olhos que continuas morto.»

Chegado ao local, estacionou o carro num ermo escuro, pegou numa lanterna e dirigiu-se, pelo meio da vegetação, até onde tinha deixado o corpo. Por momentos, ficou mais descansado quando encontrou o saco onde embrulhara o cadáver. Quando se preparava para abrir o saco, um barulho atrás de si sobressaltou-o, mas menos lesto que o agressor, não conseguiu evitar uma forte pancada na cabeça e caiu redondo no chão.

Após alguns minutos inconsciente, entreabriu penosamente os seus olhos, ainda atordoado pela dor, deparando-se com a figura de Caetano debruçado sobre si.

- Espantado por me ver, Xavier? - troçando com um ar irónico - Pensavas que te livrarias facilmente de mim - e num movimento preciso, golpeou-o com a sua navalha.

Xavier sentiu algo afiado a entranhar-se na sua carne, o rasgo de dor, o pulsar do seu sangue, a agonia do corpo, a expressão de horror espelhado no seu rosto e a imagem ao seu redor a desvanecer-se lentamente. No seu último suspiro, antes de finar, interrogou-se como seria possível o seu plano ter falhado.

Morreu, naquela noite, sem ter desconfiado que Caetano tinha um irmão gémeo.

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