segunda-feira, março 07, 2011

6º CAMPEONATO NACIONAL DE ESCRITA CRIATIVA: 3º DESAFIO

Os dedos perfilam-se sobre o teclado, imóveis. O documento encontra-se em branco.

Como vou entregar este artigo para a Redacção do Jornal, se não consigo tirar a tua imagem da cabeça? Não, não e não... Basta! É hora de expulsar-te de mim, de me libertar das amarras do passado, arrancar esses espinhos com que me dilaceraste o coração e ficar concentrado na escrita.

Sem fazer prever, os dedos ganham vida, pressionando tecla por tecla, numa sinfonia perfeita, o título do documento "Os Mistérios da Cidade de Lisboa". De seguida, voltam a parar.

O nosso primeiro encontro, quem diria, num comboio a caminho de Lisboa. Os meus olhos fitaram os teus, absortos pela beleza do teu rosto. Envergonhada, escondias-te atrás do livro que tinhas em mãos. Não aguentei, enchi-me de coragem e apresentei-me. Foi o princípio da nossa história.

Estremeço.

O nosso primeiro jantar, as nossas primeiras juras de amor, o nosso primeiro beijo. Lábio por lábio, duas línguas dançantes e um beijo teu com um trago a manteiga. Sim, manteiga, foi a que me soube o teu primeiro beijo.

Maldita sejas pela dor que me estás a causar. Vou ligar o rádio, talvez a música me ajude a abstrair-me de ti e voltar a encher o jarro de água, que me fazes secar a boca e a alma.

Uma pergunta e muitas respostas. Porque partiste? Saíste pela porta fora, deixando entranhado o teu aroma na almofada e o suor nos lençóis, desconhecendo que te possuiria pela última vez.

Não acredito no que estou a ouvir, está a passar aquela música, a nossa música, que tu não sabes que é a nossa. Não me permitiste partilhá-la contigo.

Sempre me disseste que não acreditavas no amor, afirmando que só os parvos poderiam acreditar nesse sentimento, que para ti não passava de hipócrita, comodista e fingido. Pois, minha querida, eu sou um parvo por crer que é possível amar incondicionalmente e que o destino de duas pessoas se possa entrelaçar num só.


Os dedos descarregam a fúria recalcada pelo tempo, enquanto que as lágrimas, teimosas, desbravam caminho pela face abaixo.

Entraste na minha vida e roubaste um pedaço de mim sem pedir perdão, sem dar explicações, deixando-me cruelmente indefeso. Não, não, não. Basta! É hora de expulsar-te de mim!

Leio o que acabei de escrever: “Amo-te Carla”.

Desisto.