sábado, outubro 06, 2007

Peça "Conversas do Sofá" no Teatro Bocage

Ontem à noite fui assistir à antestreia da Peça “Conversas do Sofá” no Teatro Bocage em Lisboa. É uma comédia descomplexada, divertida, onde existe uma forte interacção com o público e foca o eterno tema “A Guerra dos Sexos”. A não perder. Esta peça vai estar em cena duas vezes por semana (Sextas e Sábados às 21h30) até ao final do mês de Novembro.

Um grande beijo para a minha amiga Samara Rainho que é um autêntico Tubarão em palco. Continua assim miúda…




"Ter sexo é como ir a uma festa chique, não interessa a posição, interessa é estar lá dentro!"

quinta-feira, outubro 04, 2007

Homenagem...

Conheci Patrícia em Setembro de 1987 no primeiro dia de aulas do 5º ano e desde muito cedo que criámos uma relação de amizade forte que foi sendo cimentada ao longo dos cinco anos em que fomos companheiros de turma.

Andávamos num colégio, nos arredores de Lisboa, cujo rigor e autoritarismo eram a bandeira da instituição. Em resposta à disciplina aplicada diariamente, a turma transformou-se numa espécie de irmandade, criando-se laços de amizade, de solidariedade e de união muito fortes. Ainda hoje consigo recordar-me com exactidão o nome de todas as pessoas que me acompanharam naqueles anos.

A sua disposição alegre de sorriso fácil, puro, transparente e o seu olhar reluzente, cristalino que reflectia a pureza da sua alma, contagiavam qualquer pessoa… mesmo naqueles dias em que se encontrava mais cabisbaixa, tentando esconder a sua dor.

- Que tens hoje Patrícia? - Perguntei-lhe tantas vezes ao longo desses cinco anos.

- Nada. Sinto-me indisposta, só isso. Já passa. – Respondia-me de imediato, sorrindo-me.

Em 1992, no último dia de aulas do 9º ano, muitos de nós tinham decidido que chegara o momento de deixar o colégio para enfrentar o ensino público, eu incluído. Assim, como forma de encerrar este capítulo, ficara assente a realização de uma festa de despedida entre todos os colegas (amigos) da turma.

Já a festa se embalava ao som dos slows, quando eu e Patrícia, nos aproximámos timidamente um do outro e lhe perguntei se queria dançar. Acenou-me com a cabeça em sinal de concordância. Então, agarrados, um ao outro, deixamo-nos levar pelo espírito da dança.

Enquanto dançávamos, perguntei-lhe se no futuro voltaríamos a ter uma oportunidade de dançar juntos novamente. Patricia não me respondeu e a noite avançou depressa…

Meses depois soube que tinha ido viver com a mãe para o Algarve e dessa forma deixei de ter qualquer forma de contacto. O tempo, esse, calcorreou sem parar. Cresci, conheci novas pessoas, ganhei novas amizades e a Patrícia ficou a pertencer, somente, ao meu livro de memórias…

Porém, alguns anos mais tarde, recebi uma carta sua a relatar como tinha sido a sua vida depois de ter ido viver para o Algarve. Descobrira por acaso o endereço da minha casa, numas arrumações que estava a fazer e decidiu escrever-me.

Infelizmente, as notícias não eram nada animadoras. No meio do seu relato, contara-me que se encontrava muito doente e que o seu estado de saúde se estava agravar com o passar do tempo. Pensava também regressar em definitivo para Lisboa, de forma a poder estar mais perto do Hospital que estava acompanhar o seu caso.

E assim foi. Pouco tempo depois Patrícia já se encontrava de volta a Lisboa e tivemos a oportunidade de nos encontrar novamente.

Lembro-me como se fosse hoje, o reencontro, a minha reacção, o nosso estado de espírito.

Toquei à porta receoso, sem saber o que esperar do outro lado. A porta entreabriu-se devagar e a sua imagem foi aparecendo pouco a pouco até ficarmos frente a frente.

- Helder, estás tão diferente. Entra, vamos para o meu quarto. – o seu tom de voz sofrido sussurrava-me aos ouvidos.

Aquela Patrícia que conhecia em tempos parecia-me já não existir mais, o brilho dos seus olhos escondia-se por trás da sua dor, o seu cansaço era visível e a sua passada lenta e arrastada.

No seu quarto, “Angel song” dos Silence Four tocava baixinho, parecendo partilhar a sua dor.

- Lembras-te quando andávamos na escola e que havia dias em que não me sentia bem? Foi-me diagnosticado na altura que tinha um problema nos pulmões. São um género de quistos pulmonares que fazem com que os meus pulmões se encham de líquido e, apesar dos tratamentos que tenho feito, não existe cura para o meu problema.

- Quer dizer que…

- Sim. – Interrompendo-me – sim, estou já na fase terminal da minha doença.

Aquela frase foi uma estalada na minha alma. Ali, olhos nos olhos, sem saber o que dizer e o que fazer, fiquei imóvel, deixando escapar uma lágrima.

- Helder, mas ainda vamos a tempo de uma última dança. – Deixando escapar o seu sorriso pela primeira vez. Sim, aquele sorriso era o sorriso que bem conhecia…

Dançámos, conversámos, relembrámos histórias do passado e as horas daquela tarde foram-se consumindo a uma velocidade vertiginosa.

No fim, antes de me despedir, ofereceu-me uma Bíblia com uma dedicatória sua. Essa Bíblia ainda se encontra na minha mesinha de cabeceira.

Foi a última vez que a vi com vida. Patrícia Vilhena faleceu poucos dias depois, no dia 16 de Novembro de 1999.

Ficarás para sempre no meu coração.