quarta-feira, dezembro 05, 2007

Amália Rodrigues

Um dos momentos altos da minha vida foi ter tido a oportunidade de ter conhecido um dos maiores ícones de Portugal: Amália Rodrigues. Este encontro efémero ocorreu em Fevereiro de 1993 em pleno Aeroporto de Orly, Paris.

Amália estava de partida para a nossa Pátria, enquanto que eu e os meus pais tinhamos acabado de chegar a um país totalmente estranho, para enfrentar um dos maiores desafios das nossas vidas (essa história terá o seu devido tratamento aqui no blog num futuro próximo).

Após termos aterrado na pista e de sermos encaminhados para dentro do aeroporto, eu e os meus pais, de malas na mão, perdidos e desorientados no meio daquela imensidão de pessoas, tentávamos descobrir a saída, de forma a podermos encontrar os nossos familiares que, entretanto, se encontravam à nossa espera.

No meio de todo aquele rebuliço, passa por nós Amália, com aquele charme triunfal, que só os “predestinados” conseguem possuir. A minha mãe, incrédula, apercebeu-se, e num misto de excitação e de perplexidade por a encontrar naquele lugar inóspito, deixou escapar bem alto “Olhem, é a Amália”.

Amália ao ouvir o seu nome a ser evocado, parou de andar, rodopiou-se sobre si mesma e dirigiu-se a nós. Perguntou-nos a razão de estarmos ali. Ainda extasiados por a termos ali à nossa frente, os meus pais tentaram-lhe explicar em curtas palavras - mais com as emoções do que com as palavras -, a razão da nossa estadia em Paris. Visivelmente emocionada Amália olhou-me nos olhos, aproximou-se e abraçou-me num abraço apertado, depois segredou-me ao ouvido «Vai correr tudo bem. Vou rezar por ti». Dito isso, tirou para fora uma imensidão de santinhos que trazia ao peito e benzeu-me. Despediu-se de nós pela última vez e voltou a seguir o seu caminho. Talvez fosse o sinal necessário para que pudéssemos encarar esta etapa da nossa vida de uma forma positiva e esperançosa.

Apesar de já não estar entre nós, quero deixar aqui registada uma homenagem à Amália, com um dos seus temas mais conhecidos, “Estranha forma de Vida”.



Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem! Sei que foi viagem cheia de emoções e período bem conturbado da tua vida... aguardamos um dia a oportunidade de conhecer mais sobre isso; nem que seja soltares o lápis um bocadinho (ahem, o teclado) sobre isso... dar uns cheirinhos como fizeste aqui no post.